No Rio de Janeiro, morreu na madrugada desta sexta-feira (14) o cineasta, produtor e escritor Cacá Diegues. Ele estava com 84 anos, havia ado por uma cirurgia recente e teve problemas pós-operatórios.
Cacá Diegues foi um dos fundadores do Cinema Novo, ao lado de Glauber Rocha, Nélson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade e outros diretores importantes. O Cinema Novo mudou o rumo das produções nacionais, no final da década de 1950. Propôs uma alternativa, distante das produções comerciais. Criou um olhar político, crítico, que propunha transformações na realidade social brasileira. Cacá Diegues era alagoano, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda na infância, junto com os pais, onde ou a viver. Cursou a faculdade de Direito, mas nunca advogou: foi seduzido pelo cinema, ainda nos tempos de estudante.
Trocou a segurança de uma profissão formal pela arte e pela militância no Centro Popular de Cultura (C), criado pela União Nacional dos Estudantes (Une), para conscientizar as classes trabalhadoras. Foi dessa época o filme "Cinco vezes favela", cuja direção Cacá dividiu com outros cineastas que viriam a se destacar no cenário artístico brasileiro. O primeiro longa que dirigiu é de 1963: "Ganga zumba", com Antônio Pitanga e Léa Garcia - foi primeiro filme nacional com protagonistas negros. Em 1966, filmou "A grande cidade", retratando as dificuldades vividas pelos imigrantes.
Mas em 1969, à medida que o regime militar, iniciado com um golpe de estado em 1964, aumentava a repressão política, Cacá deixa o país: foi morar em Paris, junto com a primeira mulher, Nara Leão. Quando retornou do exterior, ele rodou mais dois filmes destacados: "Quando o carnaval chegar" e "Joana sa." "Xica da Silva", com Zezé Mota, em 1976, foi assistido por mais de três milhões de pessoas. "Bye bye, Brasil" com Beth Faria, José Wilker e trilha sonora de Chico Buarque de Holanda foi sucesso em 1980. E participou da mostra competitiva do Festival de Cannes.
Em “Quilombo”, Cacá retomou, mais uma vez, o tema dos escravizados, uma coprodução franco-brasileira. Em 1996, após as dificuldades criadas pelo governo de Fernando Collor, que cortou financiamentos para o cinema nacional, Cacá lançou "Tieta do agreste", adaptado da obra de Jorge Amado. Dois anos depois, fez outra adaptação: "Orfeu", de Vinícius de Moraes. Desta vez, com Toni Garrido e Patrícia França. "Deus é brasileiro", de 2003, com Antônio Fagundes e Wagner Moura, foi o segundo maior sucesso de público de Cacá: foi assistido por mais de 1,5 milhão de pessoas.
Cacá Diegues também foi membro da Academia Brasileira de Letras. Dedes 2018, ocupava a cadeira de número sete, que pertenceu ao amigo Nélson Pereira dos Santos.
O corpo do cineasta vai ser velado neste sábado (15), na Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro, a partir das 11h da manhã.
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